Gabriel Fortes
Rodrigo Lins Rodrigues
As escolas de tempo integral apresentam impactos distintos no aprendizado de alunos em diferentes regiões do Brasil, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2023. Segundo levantamento do Observatório de Equidade Educacional, do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), ao comparar os resultados do Ideb por região e nível socioeconômico, foi no Nordeste que as escolas de tempo integral mostraram os maiores avanços. Essas escolas tiveram um impacto expressivo no desempenho de estudantes de menor nível socioeconômico, principalmente os pertencentes aos quintis I e II, promovendo uma significativa redução das desigualdades educacionais.
Crescimento nas Escolas de Tempo Integral
Os dados indicam que, nas séries iniciais do ensino fundamental, o Ideb nas escolas de tempo integral do Brasil subiu de 5.3 em 2017 para 5.7 em 2023, um aumento de aproximadamente 7,5%. Em contraste, as escolas regulares se mantiveram relativamente estáveis, com um Ideb de 5.4 em 2017 e 5.5 em 2023, refletindo um aumento modesto de 1,85%.
Nas séries finais do ensino fundamental, o Ideb das escolas de tempo integral aumentou de 4.3 em 2017 para 4.7 em 2023, um crescimento de 9,3%. Já as escolas regulares tiveram uma variação menos significativa, saindo de 4.2 em 2017 para 4.4 em 2023, um aumento de 4,8%.
Avanços no Nordeste por Quintil Socioeconômico
A pesquisa também revela que, no Nordeste, os alunos de escolas integrais do quintil I (os mais vulneráveis) nas séries iniciais do fundamental tiveram um salto no Ideb de 4.9 em 2017 para 5.5 em 2023, representando um crescimento de 12,2%. Comparativamente, as escolas regulares nesse mesmo quintil subiram de 4.4 em 2017 para 4.9 em 2023, um aumento de 11,4%.
Nas séries finais, os resultados mostram uma melhora de 12,2% nas escolas de tempo integral, onde o Ideb subiu de 4.1 em 2017 para 4.6 em 2023. As escolas regulares, por outro lado, avançaram de 3.7 para 4.1, um crescimento de 10,8%no mesmo período.
No quintil II, o aumento nas séries iniciais foi mais modesto, com as escolas integrais subindo de 5.0 em 2017 para 5.5 em 2023, um crescimento de 10%, enquanto as regulares aumentaram de 4.6 para 5.1, um crescimento de 10,8%. Nas séries finais, o crescimento nas escolas de tempo integral foi de 11,9% (de 4.2 para 4.7), enquanto as escolas regulares cresceram 10,5% (de 3.8 para 4.2).
Diferenças Regionais
Os pesquisadores observaram que, no Centro-Oeste, a qualidade nas escolas de tempo integral mostrou melhorias, mas com uma diferença menos acentuada entre escolas integrais e regulares em comparação a outras regiões. Chamou a atenção a queda de desempenho no quintil V, potencialmente explicada pelo período de pandemia. Por exemplo, no quintil V, o Ideb das escolas de tempo integral caiu de 6.4 em 2017 para 5.5 em 2023, uma redução de 14,1%, enquanto as escolas regulares mantiveram um desempenho estável, caindo levemente de 6.9 para 6.8.
Em contrapartida, no Sul, as escolas integrais do quintil V nas séries iniciais tiveram um desempenho positivo, crescendo de 6.1 em 2017 para 6.4 em 2023, um aumento de 4,9%, enquanto as regulares mantiveram 6.3 ao longo do período. Nas séries finais, as escolas de tempo integral tiveram um crescimento de 8,3% (de 4.8 para 5.2), comparado a um crescimento de 2% nas escolas regulares (de 5.0 para 5.1).
No Sudeste, o quintil I também registrou um aumento considerável nas escolas integrais das séries iniciais, com o Ideb subindo de 5.2 em 2017 para 5.9 em 2023, um crescimento de 13,5%. Já as escolas regulares dessa faixa registraram um aumento de 6%, com o Ideb crescendo de 5.0 para 5.3 no mesmo período. Esses resultados destacam o sucesso das escolas de tempo integral na promoção de avanços educacionais entre os estudantes mais carentes da região.
Considerações Finais
Como destacou o pesquisador Gabriel Macedo, líder de pesquisa do Observatório de Equidade Educacional, “a investigação dos dados do Ideb por região e nível socioeconômico nos permite identificar padrões de sucesso e áreas que ainda necessitam de atenção significativa para alcançar os ideais de equidade e excelência em educação.”
“Esses resultados reforçam a importância de políticas de equidade bem fundamentadas e financiamento adequado, especialmente em áreas com maior pobreza, para garantir que todos os alunos, independentemente de sua condição socioeconômica ou regional, tenham acesso a uma educação de alta qualidade”, enfatiza Macedo.
“O Brasil, ao se preparar para o próximo ciclo do Plano Nacional de Educação, enfrenta o desafio de alinhar suas políticas educacionais com os objetivos globais da Agenda Educacional 2030, que enfatizam a necessidade de uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade. O país está diante de escolhas políticas cruciais que determinarão o futuro de sua juventude e a coesão social”, conclui o pesquisador do NEES.